Talvez ela não se dê conta, mas a mera existência de Elza Soares já é em si uma transgressão. Mulher. Negra. Nascida na favela. “Destruidora de lares”. Mãe. Viúva. Sensual aos 77 anos. Moderna.
A primeira vez que vi um show seu, em 2007, mal conhecia seu trabalho, mas já fiquei impressionada com a vivacidade e intensidade daquela mulher, que não parava de dançar e rebolar, descumprindo orientações médicas.
Na segunda vez, nem 12 pinos na coluna seguraram esta que faz jus ao clichê de força da natureza –“mas o resto está tudo no lugar”, fez questão de assegurar à plateia do Cine Joia na última quinta (30).
Elza é moderna e cantou “com computador” –dois DJs soltando as bases para ela brincar com a voz e transformar em pancadão “Chega de Saudade” e outros clássicos da canção e do samba. Elza mostra que o rap e o funk são descendentes do samba e não podem renegá-lo. Elza recebe com carinho os herdeiros de sua arte, mesmo os não tão óbvios, como Emicida, com quem fez versões memoráveis de “Volta por Cima” e “Nega do cabelo Duro”.
Elza não abre mão da vaidade e da sensualidade. Reafirma o sexo mesmo contra os preconceitos que diriam que ela já passou da idade. Beija todos na boca. Faz comentários maliciosos. Elza é um modelo de mulher a seguir. Elza ensina que não existe idade para fazer política, se posicionar, lutar contra a desigualdade.
Elza é transgressora.
(apenas para aconselhar que não percam uma próxima oportunidade de ver esta mulher ao vivo)
Republicou isso em Rainha do Samba.
CurtirCurtir